A Prática e os Desafios da Gestão com Pessoas
A Prática e os Desafios da Gestão com Pessoas
Diante das transformações mundiais, como empresas e trabalhadores
buscam manter-se no mercado de trabalho?
Olívia Dutra Carvalho de Moraes
Com a globalização, o desenvolvimento tecnológico, as mudanças de mercado e a corrida pela qualidade e produtividade, a velha sociedade do patrimônio físico, industrial e material cedeu lugar, em ritmo veloz, à emergente sociedade do conhecimento. Assim, as pessoas passam a significar o diferencial competitivo que mantém e promove o sucesso organizacional. São as pessoas que produzem, vendem, decidem, motivam, comunicam, lideram e gerenciam os negócios e as próprias pessoas. E o comportamento destas depende, principalmente, das políticas e diretrizes da organização para lidar com elas.
Nesta era da informação, as empresas requerem agilidade, mobilidade, inovação e mudanças para enfrentar as novas ameaças e oportunidades em um ambiente de intensas transformações. Neste contexto, o maior desafio é a produção do conhecimento e as relações interpessoais, onde as organizações voltadas para o futuro estão sintonizadas com os desafios de educar, treinar, motivar, liderar e desenvolver seus colaboradores, proporcionando um ambiente de trabalho agradável e acolhedor.
Nos dicionários, o trabalho é concebido como um conjunto de atividades exercidas pelo homem em busca de um determinado fim. No entanto, seus significados vão muito além. Ele possui uma conotação subjetiva na medida em que representa fator de inclusão social, de construção de identidade, de reconhecimento e realização pessoal. Assim, as práticas, as políticas e as estratégias de como lidar com as pessoas em contextos organizacionais precisam ser constantemente repensadas, ressaltando o crescimento da preocupação com a saúde integral do trabalhador, especialmente a mental, com a qualidade de vida no trabalho, com a identificação de fatores que sejam fonte de tensão, estresse e adoecimento.
Nesse contexto de desafios diários, fundamenta-se a necessidade e a importância da prática da Gestão de Pessoas – ou, como utilizado por alguns autores, Gestão com Pessoas –, que busca promover e assegurar um ambiente saudável e produtivo, contemplando as necessidades tanto do colaborador quanto da organização, para que ambos enfrentem melhor as mudanças.
Segundo Idalberto Chiavenato, ícone da área de Administração, a Gestão de Pessoas ressalta a importância da personalidade e da história peculiar dos indivíduos, que possuem conhecimentos, habilidades e competências indispensáveis à organização, capazes de dotá-la de inteligência, talento, inovação e conduzi-la à excelência e ao sucesso. Em seu livro Gestão de Pessoas (2008), Chiavenato salienta que os objetivos dessa área são: ajudar a organização a alcançar seus objetivos e realizar sua missão; proporcionar competitividade através, principalmente, de pessoas bem treinadas; aumentar a auto-realização e a satisfação das pessoas, desenvolvendo e mantendo a qualidade de vida no trabalho; administrar e impulsionar a mudança e manter políticas éticas e comportamento socialmente responsável. Além disso, busca auxiliar os administradores nas tarefas de planejar, organizar, dirigir e controlar.
Para tanto, existem seis processos básicos de Gestão de Pessoas: 1) agregar pessoas (incluir novos colaboradores na empresa); 2) aplicar pessoas (desenhar atividades, orientar e acompanhar desempenho); 3) recompensar pessoas (implementar processos de incentivo); 4) desenvolver pessoas (capacitar e expandir o desenvolvimento profissional e pessoal); 5) manter pessoas (criar condições ambientais e psicológicas satisfatórias); 6) monitorar pessoas (acompanhar e verificar resultados). Todas essas práticas precisam ser permanentemente reestruturadas e novas ferramentas utilizadas, a fim de dinamizar suas potencialidades e contribuir para o sucesso da empresa e do colaborador. Aqui, o apoio da cúpula da organização é essencial.
Contudo, assim como a empresa precisa investir nas políticas de gestão de seus colaboradores, é fundamental que estes se preparem para as mudanças, especializando-se, atualizando-se e inovando. Muitos ficam preocupados com a estabilidade no emprego e acabam se esquecendo de adaptar-se e capacitar-se para as mudanças nos padrões organizacionais e ambientais.
Portanto, ao se tratar de Gestão com Pessoas, é fundamental analisar as mudanças nas relações de trabalho e a responsabilidade do indivíduo nesse processo.
Anos atrás, a carreira exigia dedicação e lealdade e, em troca, a empresa oferecia um emprego vitalício. Com a nova visão do mercado e do trabalho, a relação entre a empresa e o colaborador foi desestabilizada. De acordo com o consultor Max Gehringer, quem entra no mercado de trabalho hoje, mudará de emprego provavelmente entre 7 ou 8 vezes. Agora, a responsabilidade está, sobretudo, nas mãos do trabalhador: é a época do autogerenciamento de carreira.
Além disso, cada vez mais se discute a necessidade da multifuncionalidade do trabalhador. “Antes a regra era mais clara. Havia horas, salário, competências e hierarquias bem definidas. Hoje os papéis não são tão claros e a qualquer momento o funcionário operacional precisa assumir papéis gerenciais.”, explica Dario Guimarães, consultor de carreiras.
Dentro dessa realidade, um assunto em voga é a Empregabilidade, a capacidade de adequação do profissional às novas necessidades e dinâmica do mercado de trabalho. As pessoas que se acomodam tendem a se tornarem resistentes e conservadoras, o que dificulta sua afirmação e/ou recolocação no mercado de trabalho. O profissional tem que se perguntar constantemente: "Qual o grau de qualificação que eu possuo?", "Até que ponto estou preparado para as demandas atuais e futuras da posição que ocupo?", "Estou me preparando para progredir em minha carreira e aceitar novos desafios?".
Nesse contexto, José Augusto Minarelli, especialista em aconselhamento de carreira, estabelece seis pilares da empregabilidade:
- Adequação da profissão à vocação - para torna-se um bom profissional e um ser humano realizado, o indivíduo deve conciliar a sua função com a capacidade e paixão pelo que faz;
- Competências - preparo técnico; capacidade de liderar pessoas; habilidade política; habilidade de comunicação oral e escrita em pelo menos dois idiomas; habilidade em marketing; habilidade em vendas; capacidade de utilização dos recursos tecnológicos, entre outras;
- Idoneidade - implica confiança, ética, respeito;
- Saúde física e mental - cuidar do equilíbrio, do nível de desgaste, do corpo e evitar vícios como fumo, álcool e drogas. Pessoas saudáveis tem bons relacionamentos e interagem de maneira favorável;
- Reserva financeira e fontes alternativas de aquisição de renda - a perda do emprego significa a perda da entrada de receita. Portanto, você deve fazer uma reserva mês a mês. Seu negócio próprio, de qualquer dimensão, também pode ser uma fonte alternativa de renda;
- Relacionamentos - Quem estabelece uma eficaz rede de relacionamentos – networking – adquire informações importantes e relevantes. Uma pessoa cuidadosa registra, guarda e cuida de seus relacionamentos.
Desse modo, não basta ter um diploma. Para ser inserido no mercado de trabalho é importante que o profissional tenha autopercepção, tanto de forças como de fraquezas, objetivos profissionais e pessoais pré-estabelecidos e um diferencial competitivo. Para isso, é necessário manter o contínuo desenvolvimento de suas competências intelectuais, emocionais e físicas. Outra importante característica comportamental valorizada pelas empresas é a visão estratégica para detectar oportunidades de mercado, para tomada de decisões importantes e coerentes, prevenindo riscos e garantindo o permanente desenvolvimento organizacional.
Nesse sentido, para o alcance da empregabilidade: avalie e diversifique suas atividades; melhore e amplie sua capacidade de comunicação; recicle-se constantemente; trate sua carreira como se fosse um verdadeiro negócio; desenvolva sua rede de relacionamentos; aprenda a lidar com as pessoas; desenvolva sua Inteligência Emocional e seja multifuncional.
O tempo não para... Portanto, mudanças constantes devem ocorrer nas organizações, na área de Gestão de Pessoas e nos profissionais, a fim de – juntos – enfrentarem os inacabáveis desafios das transformações mundiais.
