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Criança suja, adulto mais saudável
Pesquisadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, associaram o alto contato de crianças de até 2 anos com ambientes empoeirados, sujos e até com resquícios de fezes de animais à maior produção de anticorpos e ao desenvolvimento de um sistema imunológico resistente.
Eles estudaram 1 534 casos de adultos nascidos e criados em Cebu City, nas Filipinas, cidade cujos níveis de integridade sanitária são muito inferiores aos padrões. Com análises da composição sanguínea dessas pessoas, os cientistas encontraram um número pequeno de indicadores que denunciam as infecções crônicas.
Esse novo estudo vai ao encontro da “teoria da higiene”. “Nessa teoria, é sugerido que os povos ocidentalizados, com o excesso de preocupação com a limpeza e assepsia, tenham tido um aumento da ocorrência de alergias e asma”, explica Wellington Borges, presidente do Departamento de Alergia e Imunologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Mas o estudo com a população filipina foi muito além da asma. Nele os pesquisadores defendem que o contato precoce com germes diminui a chance das super-reações a agentes externos, que são as causadoras das inflamações crônicas. Fazendo parte das doenças desencadeadas por essas respostas inadequadas do nosso sistema imunológico estão também o diabete e as doenças cardíacas.
Portanto, nada de se martirizar limpando todos os quatro cantos da sua casa. Às vezes, um pouco de “vitamina S” – de sujeira – não só é inofensiva como também uma forte aliada da resistência e da saúde do seu filho.
(Fonte: espacointeligente.com.br)
Quem precisa de limites? Questões subjetivas
Um primeiro aspecto a ser pensado é o conceito de limite na educação. O que é limite? Você consegue defini-lo? Consegue exemplificar a falta ou excesso de limites? Para que serve o limite?
Segundo o dicionário Aurélio, limite significa: linha de demarcação; divisa, fronteira; extremo, fim; ponto que não se deve ultrapassar.
Ao se falar em limites, logo surge o pensamento da criança “sem limites”, aquela que em lugares públicos faz birra. Na sociedade, o que foge à linha de demarcação é considerado “sem limites”.
Poucas vezes pensamos que a criança em desenvolvimento está se adaptando a uma série de limites que são imposições sociais, que muitas vezes desrespeitam os limites fisiológicos ou emocionais da criança. Isso não quer dizer que deve-se privar a criança de aprender sobre os limites sociais, mas sim, ficar atento a capacidade de compreensão da crianças nas diferentes idades.
A teoria do desenvolvimento infantil relata que o bebê precisa sorrir aos 4 meses, repetir sons aos 5 meses, repetir sílabas aos 7 meses, andar com um ano, desfraldar aos 2 anos, (bem como largar a chupeta e a mamadeira nesta idade. Que idade difícil! Quantas perdas!!) e assim progressivamente. Mais que tudo isso, a criança deve respeitar os limites. Mas as crianças conhecem esses limites? Quem os ensina? Como o limite é aprendido pela criança?
Na atualidade, pouco são os pais que percebem os aspectos citados relacionados à idade como marcos a ficarem atentos, marcos que demonstram o desenvolvimento neurofisiológicos e psicológico do ser em desenvolvimento, mas que cada bebê possui um ritmo de crescimento, desenvolvimento e aprendizagem. Esses marcos são etapas, fases que o mesmo passará até se tornar criança, depois adolescente, jovem, adulto, idoso.
Se um bebê ou criança foge a esses marcos citados, logo os pais insistem numa estimulação “forçada” para que a criança se desenvolva “normalmente”. Isso é falta ou excesso de limites? O que uma estimulação fora ao que a criança está preparada provoca? É o contrário: o que ocorre ao impedir a criança que já está preparada para uma tarefa e é impedida de exercer? Onde está o limite ou a construção do limite nestas ações?
Esses marcos fisiológicos, sociais ou ambientais estão relacionados a construção de limites porque nos mostra o que a criança ou bebê pode fazer em cada etapa de seu desenvolvimento. Porém essa construção de limites também está associada a segurança que o bebê ou a criança sente nos pais (ou em quem a cuida) ou a conficança que os pais depositam nela, na sua capacidade de aprender e crescer e ainda mais dos pais em si próprios de serem agentes no crescimento de seus filhos. Também está relacionada ao respeito que permeia a relação afetiva dos pais entre si (com o par afetivo e consigo mesmo) e dos pais com os filhos.
O bebê ou a criança, constrói o significado do mundo através do que introjeta como significados. Se repetidamente ouve ou percebe que a mãe diz que ela, como criança é “arteira”, “ativa”, ou “bagunceira” como o pai, o avô, ou qualquer pessoa que represente segurança, entenderá que deve ser arteira, ativa e bagunceira, é o que ela deve ser. A criança responde a uma demanda do outro, isto é, construirá as representações e o lugar que acredita possuir na família através do que ela ouve e percebe que o Outro (o familiar, o que está mais próximo), diz dela, esse dito que a representará.
É a família que a constrói os primeiros conceitos, representações e os limites na educação da criança. Os limites são interiorizados a partir dessas representações, que possibilita a criança perceber e construir seu mundo interno e externo. Como? Através da observação, do lhe é expressado, o que é dito em palavras, em atos e o que fica também no subjetivo, no não dito, mas que é sentido e expresso de alguma forma. É importante lembrar que a criança constrói através do que observa e não somente conforme o adulto fala. A expressão dos pais, para a criança, tem mais significado que as palavras, até porque as crianças estão aprendendo o significado das palavras.
Ao nascer, durante meses o bebê acredita que permanece unido ao corpo da mãe. Muitas mães também tem a dificuldade de perceber essa separação, pois a amamentação une mãe e filho num sintonia única.
Ao diferenciar o mundo externo do interno, o próprio bebê começa a interiorizar alguns limites (corporais e emocionais) desde que o adulto possua o limite de prover esse espaço. É nessa separação que o limite e o amor é construído.
Você sabe que um bebê de 2 meses pode brincar sozinho por alguns momentos?
Esse espaço/ afastamento além de estabelecer limites auxilia a construção do respeito. Um adulto que respeita a si próprio, consegue construir limites com seus filhos?
A criança percebe o respeito do adulto por si próprio quando o próprio adulto consegue um tempo para parar, um tempo para conversar (conversar no sentido de falar e ouvir, entender o significado da vivência do momento).
E os adultos, tem se respeitado? Respeitam o momento de sono sem o celular na mão ou a tv ligada? Respeita sua alimentação? Seu momento de atividade física? De seu namoro?
Dolto (1998), ressalta que a colocação de limites, não significa simplesmente a imposição de uma série de comportamentos, mas relacionar-se com o ato de ajudar a criança a construir-se, ensinando-lhe o respeito por si mesma através do respeito dos adultos por ela.
Todos nós, enquanto seres em desenvolvimento, só podemos construir os limites educacionais das crianças se respeitarmos os nossos próprios limites.
Regras , valores, moral e ética são essenciais para viver em sociedade, mas para a construção de limites, também é essencial a sensação de respeito a si mesmo. Podemos (e fazemos várias tarefas ao mesmo tempo), mas a que custo?
A criança (e o adulto também) necessita de limites para sentir-se segura, confiante e em harmonia.
Termino perguntado ao adulto que lê: como está seus limites?
(Autor: Rachel Canteli, psicóloga, psicanalista e psicopedagoga)
As consequências de beijar o filho na boca
Uma das primeiras consequências de beijar os filhos na boca, já nos primeiros dias de vida, é a transmissão de bactérias as quais os bebês ainda não possuem defesas. Segundo o presidente da Associação Odontocriança, Daniel Korytnicki, que concorda com a citação do infectologista Milton Lapchik, além da cárie, “o estalinho pode transmitir algumas doenças, como herpes simples, micoses e outras infecções causadas por vírus”, as quais muitas vezes ficam imperceptíveis na pele, mas que geram indisposição física, sendo necessária a intervenção medicamentosa.
A pedagoga Jane R. Barreto, ressalta que a criança imita os adultos, tanto os familiares, como os vistos em programas televisivos e filmes. Porém a representação desses papéis adultos, não significa que a criança esteja pronta para a compreensão global do que certas atitudes que imitam, representam, pois permanecem na inocência característica da infância. Nesta situação, dramatizar o que viu, cantar e dançar músicas com cunho erótico para o adulto não possui a mesma conotação para as crianças, mas as expõe. A criança, por se estruturar através da fantasia mediada pela realidade, vive no faz de conta a concepção de um amor dentro do conhecimento que possui do amor de seus pais: príncipes e princesas que desejaram estar juntos e serão felizes para sempre. Mesmo famílias que possuem desentendimentos constantes na frente da criança, pelo infante não conhecer outra realidade, acaba por considerar que esta forma de relacionamento é a normal. A autora ainda ressalta que “Adultos não devem beijar crianças na boca, se alimentar na mesma colher, assoprar a comida, ou ainda recolher a chupeta, quando a mesma cair no chão, levando-a à boca, para “tirar as bactérias”, e depois colocar na boca da criança, evitando assim a transmissão de Hpilori, cárie, herpes, sapinhos, entre outros… eles ainda estão criando imunidade, não tem a defesa orgânica que os adultos têm. Além da questão saúde, devem permanecer atento ao comportamento, pois se os infantes julgarem que esse costume familiar é natural, repetirão com todos adultos que tiverem contato. Neste sentido o diálogo com seus filhos se torna fundamental, esclarecendo que essa atitude só deverá ocorrer no seio familiar, pois, com a ingenuidade natural da criança, pode acontecer dela entender que, uma vez que seus pais a beijam na boca, pode repetir o gesto com outros de seu vínculo.”.
Giselle Castro Fernandes também ressalta que criança não beija na boca e não namora. Criança tem amiguinhos mais chegados ou não. Nas escolas, presenciam-se alguns coleguinhas andar de mãos dadas dizendo-se namoradinhos, ou como relatou uma mãe de uma criança de três anos:“Minha filha está preocupada com quem vai se casar, pois um amiguinho casará com uma de suas amigas, o outro com outra e assim consecutivamente.”. Situações como essas, além de gerar ciúmes, provocam também uma preocupação inadequada para a idade, privam a criança da infância, sem nenhuma razão! O trabalho dentro do espaço escolar de esclarecer a educadores e pais sobre este aspecto é fundamental.
Para os pais, o namoro infantil pode ser interpretado como uma brincadeira, mas é preciso que se alerte quanto às consequências disso. Uma criança de dois ou três aninhos, acostumada a dar o “selinho” em seus pais, a tomar banho junto com o sexo oposto adulto ou a dormir na cama do casal, dependendo de como o adulto brinca ou sente essa situação, poderá desenvolver a erotização precoce de algumas áreas de seu corpo e este fator pode novamente privá-la da inocência da infância. Assim, casos esses comportamentos sejam rotinas dentro da família, precisam ser conversados e orientados dentro do entendimento de cada fase, lembrando sempre que a criança possui uma compreensão relacionada ao corpo bem diferente do adulto. Valdeci Rodrigues questiona: “Numa época em que a pedofilia precisa ter um amplo combate, como ficam a cabeça desses garotos e garotas que escutam na própria escola que para fugir do baixo astral é melhor “beijar na boca”?”. Essa reflexão é primordial para a educação infantil para pais e educadores.
Giselle Castro Fernandes continua sua reflexão alertando que “Na família existe o papel do pai e da mãe – que, juntos, formam um casal que dorme junto, que beija na boca! O papel dos filhos é outro. São crianças, e criança não beija na boca, não dorme na cama dos pais, etc. Trata-se de demarcar esses limites de maneira bem clara. Do contrário, fica difícil definir o papel do adulto e da criança. Para ela, criança, dar o “selinho” é o mesmo que namorar.”. Enfatiza ainda que “Filhinho (a) não é namorado e, portanto, não beija igual. Beija no rosto, abraça, acaricia, mas nada que se confunda com o carinho ou com o amor do adulto, do casal. Há uma preocupação muito grande (e justa) dos pais, de se atualizarem, de não se distanciarem de seus filhos, mas isso pode e deve ser feito, sem que se abra mão de seu papel, o papel de pai e de mãe, aqueles que representam o porto seguro aos filhos, aqueles que são “adultos”, que orientam, seguram a barra e que deixam muito bem definida a posição de criança e de adulto na família. Pode se ter a certeza de que os filhos, no futuro, agradecerão muito a seus pais que não abriram mão do papel com a função paterna – no sentido literal de força, de limite e da função materna – de cuidado, proteção. Amor entre adultos é diferente do amor pelas crianças, pelos filhos. Portanto, o beijo é também diferente e nem por isso menos carinhoso!”. Se incentivarmos a infância de nossos pequenos, eles irão amadurecer no tempo certo, não precisamos acelerar nada. Dentro desta linha de pensamento, a consequência de beijar o filho na boca propicia uma confusão de papéis, sendo esta desnecessária ao aprendizado infantil.
Como a concepção do adulto o beijar na boca esta relacionado a sexualidade, vale ressaltar as colocações de Lulie Macedo que cita que “Desde que o mundo é mundo, as crianças não brincam de médico à toa: a aventura do descobrimento começa já nos primeiros meses, quando o bebê experimenta o prazer de explorar o próprio corpo, e se acentua nos anos seguintes, quando sua atenção se volta para o corpo dos pais e de outras crianças.”. Esse descobrimento corporal é natural do ser humano e deve ser compreendido dentro desta lógica. Assim, tocar no próprio corpo faz parte da tarefa de entender o mundo e a autora acima complementa que“o prazer em manipular os órgãos sexuais é uma das primeiras descobertas.”. “Ela não sabe o que é certo ou errado, quais são os códigos sociais, a diferença entre o público e o privado. Cabe aos pais e educadores ensinar que ali não é lugar para isso.”, afirma Maria Cecília. Desta forma a criança entenderá o sentido de privacidade e respeito ao próprio corpo, bem como ao corpo das demais pessoas.
Essa autora também cita que “O problema não está na exploração sexual do próprio corpo ou nas brincadeiras entre crianças da mesma idade. Prejudicial é a repressão do adulto a essas atitudes, quando ele grita, proíbe, bate ou põe de castigo. Fazendo isso ele transmite a noção de que aquilo é errado, quando na verdade essas atitudes são tão naturais quanto aprender a andar, falar, brincar”, afirma Maria Cecília Pereira da Silva, psicanalista e membro da ONG Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual. – “Sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. Ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e a saúde física e mental. Se saúde é um direito humano fundamental, a saúde sexual também deveria ser considerada um direito humano básico. O “exibicionismo” infantil faz parte da fase de exploração dos corpos. Como um brinquedo novo, a criança quer mostrar aos outros, o que já descobriu. Quanto à menina que adora levantar a roupa e mostrar o bumbum, por exemplo, pode estar imitando algo que viu na TV. Em qualquer situação, cabe aos adultos começar a ensinar a noção de intimidade.”.
O trabalho educacional desenvolvido para a Educação Infantil neste assunto é permeado de observação e reflexão. Ao demonstrar e questionar a criança a respeito da consequência de constantemente tocar nos olhos, ouvidos, colocar a mão na boca, no nariz, em suma, questioná-la sobre a consequência de explorar o corpo e relacionar essa consequência ao toque dos órgãos genitais, a faz compreender que tocar demasiadamente ou sem as mãos estarem limpar, pode gerar ardência dos locais tocados. Ressaltar o uso de peças íntimas (calcinhas e cuecas) para proteger o “fazedor de xixi” e o “fazedor de coco”, é primordial para esse aprendizado, bem como também explicar que o momento de banho, é um momento privado. Desta forma, a criança compreenderá a restrição quanto a onde se tocar e não quanto a se tocar.
Assim, evidencia-se algumas consequências de beijar os filhos(as) na boca, ressaltando que se o filho for respeitado em seu desenvolvimento, terá uma infância saudável e feliz.
(Fonte: rrclinicapsi.com.br)
(Autor: Rachel Canteli, psicóloga, psicanalista e psicopedagoga)
